Empresas familiares brasileiras priorizam sobrevivência e têm pouco foco em ESG, aponta pesquisa

Levantamento indica que 84% das companhias desse tipo não têm estratégia clara para o tema; avaliação é de que podem perder confiança e valor de mercado

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Foto do author Luis Filipe Santos

As empresas familiares brasileiras não têm estratégias bem definidas para a pauta ESG (questões ambientais, sociais e de governança corporativa), aponta a pesquisa Family Business 2023 da consultoria PwC Brasil. De acordo com o levantamento, o foco está em outros temas, e mesmo questões ambientais e de diversidade têm números ruins. Caso não se atentem ao problema, as companhias podem ter problemas na atração e retenção de talentos e na construção de confiança com clientes e colaboradores.

O estudo apontou que 84% das empresas familiares brasileiras não têm clareza na estratégia ESG (um ponto percentual abaixo da média global). Além disso, 68% colocam pouco ou nenhum foco na agenda ESG e apenas 16% se consideram muito avançadas no tema. Somente 20% afirmam minimizar os impactos ambientais negativos que a companhia causa — números parecidos com os de companhias no exterior.

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A avaliação é que as empresas têm outras preocupações para lidar no momento. “Muitas delas se demonstram preocupadas em expandir para novos mercados do ponto de vista de estratégia, e outras entendem que o ESG precisa estar totalmente documentado antes de iniciarem”, explica Helena Rocha, sócia da PwC responsável pela pesquisa. Segundo ela, há um foco crescente na sobrevivência dos negócios.

Porém, o ESG pode ser igualmente necessário para que os negócios continuem existindo e possam prosperar. O valor de mercado considera a confiança criada entre clientes, colaboradores e demais partes interessadas, e ter um trabalho socioambiental e de governança corporativa ajuda a evitar riscos e construir essa confiança.

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“O tema vem sendo extremamente requerido, e o valor de mercado das empresas desatentas à pauta tem caído, com uma redução nesse prêmio de confiança”, cita Rocha.

Empresas familiares podem perder "prêmio de confiança" se não avançarem no ESG Foto: Pixabay

Dados sobre pontos específicos da pauta indicam um cenário igualmente ruim. Entre as empresas brasileiras, 76% não têm um propósito na declaração e compromisso para avançar a agenda de inclusão, diversidade e equidade (79% global). Apenas 5% dizem que reduzir a pegada de carbono da empresa é uma prioridade nos próximos dois anos (20% global).

Talentos

A situação pode gerar problemas também para a atração e retenção de talentos — para a construção de ambientes de trabalho saudáveis e as perspectivas de futuro dos funcionários em suas carreiras, quando buscam alinhamento com os propósitos das companhias em que trabalham.

Novamente, a confiança é a chave. No mundo, 49% dos negócios que dizem ter foco na atração e retenção de talentos preveem crescimento futuro forte, contra 40% dos que não priorizam isso.

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A confiança dos funcionários se baseia em três pilares: propósito de valores, compromisso ESG e “accountability”. Em propósito de valores, uma boa parte diz tê-lo, mas poucas comunicam — 73% (Brasil) e 79% (global) afirmam possuir propósito claro, mas apenas 38% (Brasil) e 41% (global) os comunicam externamente. Em “accountability”, 64% (Brasil) e 57% (global) dizem que permitem aos seus colaboradores contestar ou discutir as decisões gerenciais.

Comunicação

A comunicação em ESG é igualmente importante, e as empresas familiares brasileiras reconhecem: 74% (Brasil) consideram importante a transparência sobre os impactos no meio ambiente, e a mesma quantidade diz ser muito importante transparência sobre Diversidade, Inclusão e Equidade, em números que superam a média global. Mas apenas 29% comunicam com regularidade seu desempenho em indicadores não-financeiros.

“Talvez a divulgação não esteja acontecendo porque as empresas ainda não estão colocando o ESG em prática”, avalia Rocha. “São aspectos que envolvem muita comunicação, mas que antes da comunicação precisa de estratégia e plano”, diz a sócia da PwC Brasil.

Rocha indica que o primeiro passo é conhecer a fundo os problemas que a empresa precisa corrigir. “Nós recomendamos que seja feito um inventário de tudo que existe em termos ambientais e sociais, para que a empresa consiga enxergar o que tem de lacuna e o que é exequível”, afirma. “O ESG tem um prêmio de confiança muito alto e, se as companhias não avançarem, vão perder esse prêmio em relação ao valor de mercado”, afirma.

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